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terça-feira, 30 de setembro de 2014

Perdida #9

— É. Eu tô melhor. Obrigada, Joseph — respondi, com as bochechas queimando 
levemente. 
Ele tossiu, ao mesmo tempo em que as duas garotas se entreolharam e depois se voltaram para Joseph com cara de assombro. O que foi que eu disse?
Joseph apenas se limitou a sorrir para as duas.
— Senhorita Demetria, permita-me apresentá-la a minha irmã, Elisa — a garota de cabelo preto inclinou levemente a cabeça, — E nossa amiga Teodora Moura. — a mais baixa e ruiva também inclinou a cabeça, fazendo uma reverência.
— E aí, tudo bem? — perguntei, me aproximando um pouco. Ninguém respondeu. Fui ficando cada vez mais constrangida.
— Obrigada pelo vestido. — eu disse a Joseph, num sussurro.

Ele sorriu delicadamente deixando seu rosto ainda mais lindo. 

— Vejo que lhe caiu muito bem. — seus olhos grudados nos meus pés.
— Ficou um pouco curto, mas posso pedir à Senhora Madalena para fazer a bainha e deixá-lo mais longo. — disse-me Elisa. — Não sou tão alta! — ela deu um sorriso, como quem se desculpa. Quando sorriu, duas covinhas apareceram em suas bochechas.
— Não precisa se incomodar. Não pretendo ficar muito tempo. Na verdade, preciso voltar pra casa imediatamente. Mas valeu pela preocupação.
Toda vez que eu abria a boca, parecia ter o poder de arregalar os olhos de quem estivesse ouvindo, assim como Elisa fez agora. Eu não tinha dito nem uma asneira. Ou tinha?
— Conseguiu se lembrar de como voltar para casa? —a ruiva perguntou. — Pensei que estivesse sofrendo de um lapso de memória. Não foi isso que nos disse há pouco, Senhor Clarke?

Clarke? 

— Sim, senhorita Teodora. Foi como eu disse, a pancada na cabeça deixou a senhorita Demetria ligeiramente confusa. — ele respondeu, erguendo as sobrancelhas.
Ah! Joseph Clarke. A garota estava chamando aquele rapaz, que parecia ser mais jovem que eu, de Senhor Clarke!

Onde foi que eu vim parar! 

— Eu não estou confusa. — não com relação ao lugar de onde eu vim. — Apenas não sei como voltar. É meio complicado. Mas eu juro que descubro logo! Nem que eu tenha que me enfiar em cada buraco deste lugar.
— Não precisa ter tanta pressa, senhorita Demetria. — Joseph se apressou em dizer.Seus olhos me pareceram muito sinceros. — Será um prazer recebê-la aqui pelo tempo que for necessário.
— Nossa, valeu! Nem sei como agradecer tanta hospitalidade, mas eu tenho mesmo que voltar logo. Tenho muita coisa me esperando.
— É claro. — respondeu quase sorrindo. — Posso lhe mostrar a casa?
Joseph era bacana. Quem imaginaria que um homem pudesse ser tão gentil com uma desconhecida? Bem, ser gentil com uma desconhecida sem ter a intenção de levá-la pra cama. Eu não conhecia mais nenhum.
— Pode ser Joseph. — sorri timidamente.
As garotas se entreolharam mais uma vez. Eu corei sem saber o motivo, mas aparentemente eu havia ofendido alguém de alguma forma.
— Por que toda vez que eu digo alguma coisa sua irmã e Teodora parecem tão espantadas? — indaguei, depois que saímos da sala imensa e entramos em outro corredor largo com mais uma dezena de portas. Tinha certeza que jamais encontraria cômodo algum naquele labirinto. — Falei alguma besteira?
— Como já disse antes, seu modo de falar é... peculiar. — ele lutava para não sorrir. — Algumas de suas palavras são um tanto diferentes, mas creio que elas se espantaram pelo fato de chamar-me por meu primeiro nome.

Olhei pra ele. Ele não estava falando sério! Não podia estar falando sério! 

— Eu não posso te chamar de Joseph? É seu nome, não é?
— Sim, é meu nome. — ele deu um meio sorriso. — Mas jovens solteiras normalmente devem saudar os cavalheiros por seus sobrenomes. Nesta parte do país, ao menos, é assim. — ele estava falando sério! — Se dirigir a alguém por seu primeiro nome denota certa... intimidade.
— Intimidade tipo conhecer há muito tempo ou tipo sexo? — eu tinha que aprender depressa como não chamar tanta atenção.
Ele parou repentinamente. Olhei seu rosto e, por um momento, pensei que Joseph fosse sufocar. Por sua expressão, suspeitei que sexo não fosse um dos tópicos mais discutido por ali.

Opa! 

— Senhorita Demetria, por favor, peço que compreenda que, nesta parte do país, as... hã... certas coisas continuam como sempre foram. Conservadoras! Esse lugar de onde a senhorita vem parece ter sido... modernizado rápido demais. Mas gostaria que não falasse de certos assuntos em minha casa.
— Ah! Desculpa. Eu não sabia que não devia falar. Quer dizer, eu devia ter imaginado. Já li tantos livros sobre esta épo... Err... e nunca ninguém mencionou nada sobre se... Coisas assim. Já entendi. Não vou esquecer. Prometo, Joseph.
Ele suspirou.
— Ai, caramba! Prometo, Senhor Clarke. É que é tão estranho te chamar de senhor! Você deve ter quase da minha idade. — talvez tivesse vinte e três ou vinte e quatro. Eu estava habituada a chamar homens bem mais velhos de senhor, mas um cara bonito e tão jovem e que não era meu superior...
— Na verdade, eu não me importo com isso. Pode me chamar de Joe, se quiser. — um sorriso apareceu em seus lábios. Ele baixou um pouco a voz, num tom conspiratório. — Mas se mais alguém ouvir, terá uma reação parecida com a de Teodora.
— Eu não me importo também. Mas vou tentar me lembrar da próxima vez. Não quero te deixar numa saia justa. Você tem sido muito bacana comigo. — era o mínimo ue eu podia fazer para retribuir sua ajuda espontânea.
— Saia justa? — perguntou confuso.

Ô, meu Pai! O dia seria longo!

— É tipo uma situação embaraçosa. Constrangedora. — expliquei.
— Oh! Não me importo com isso também. Mas você, senhorita, tem uma reputação a zelar.
— Olha Joe, estou com tantos problemas que não dou mínima pra isso. Além disso, se tudo der certo, me mando logo daqui, então não importa. — suas sobrancelhas arquearam novamente. Apressei-me para explicar. — Caio fora. Dou no pé. Pico a mula. — a incompreensão ainda tingia seu rosto. — Vou embora, sacou, digo, entendeu?
A incompreensão deu lugar a outra coisa. Pareceu—me ser... desapontamento?
— Você está sendo super bacana comigo, Joe. — tentei correr com as palavras. Não queria que ele me achasse uma ingrata. — Mas é que eu realmente preciso descobrir uma forma de voltar. Minha vida está lá me esperando. — meu emprego, minha casa e Marina, que devia estar me procurando como uma alucinada por eu não ter aparecido ainda em seu apartamento para saber como o Logan havia reagido diante de seu pedido.
— Posso imaginar, senhorita Demetria. — ele me encarou por um longo minuto, depois recomeçou a andar. — Posso imaginar!
Eu o segui.
— Joe, será que posso te pedir outro favor?
— Certamente, senhorita. — seu rosto ficou sério. Ele me observou com curiosidade.
— Dá pra me chamar só de Demetria ou Demi ? Sem o senhorita? Apenas Demi? Já está me dando nos nervos!
Ele riu, um pouco surpreso com meu pedido.
— Posso tentar. — ele disse. — Não sei se consigo ser tão espontâneo quanto você.
— Claro que consegue!
Ele riu.
— Vou tentar. Agora venha, vou lhe mostrar minha casa. — disse, apontando para uma das portas. Pensei que precisaria desenhar um mapa se quisesse realmente encontrar os
cômodos outra vez. Eram tantas as salas — de leitura, de pintura, de estudos, escritório — e tantos os quartos — de dormir, de costura, de vestir — e apenas quatro deles estavam, de fato, sendo ocupados.
Joe me guiou pelo labirinto até chegarmos à cozinha.
— Senhora Madalena, creio que já conheceu a senhorita Demetria. — ele disse, formalmente.

Meus olhos se estreitaram ao constatar que ele ainda não colocara em prática a
promessa de me chamar apenas por meu nome. A mulher baixinha secou as mãos no avental amarrado na cintura e se aproximou.

— Como está, senhorita? O vestido lhe caiu muito bem. — ela me examinou de cima a baixo. Seus olhos se detiveram em meus pés. Sua testa se enrugou. — Os sapatos não eram de seu agrado?

Olhei para meus pés, assim como fez Joe. Eu realmente havia me esquecido dos tênis. E tinha certeza de que eles atrairiam olhares curiosos, ainda que não fossem vermelhos.

— Na verdade, ficaram pequenos. — eu disse, me desculpando, como se fosse culpa minha ter pés maiores que o sapato; não pés grandes demais, mas decididamente não eram pequenos. — E eu gosto destes aqui. São mais confortáveis.
Joe sorriu. Além de lhe cair bem, o sorriso vinha facilmente aos seus lábios.

Gostei disso. Gostava de pessoas bem humoradas que sorriam mais do que faziam caretas. 

— Este é o Senhor Gomes, meu mordomo — disse ele, ainda sorrindo.
— Encantado em conhecê-la, senhorita Demetria. — o homem de meia idade se inclinou de forma exagerada. Precisava daquilo tudo?
— Errr... O prazer é meu, Seu Gomes.

Joe sacudiu a cabeça, rindo baixinho, e continuou me guiando de volta por um dos corredores — que eu não fazia ideia de onde iria dar. Depois de um tempo, porém reconheci um dos quadros na parede do corredor. Já tinha visto aquele quadro mais cedo. Estávamos voltando para a sala onde Teodora e Elisa deveriam estar.

— Acabou? Você me mostrou tudo? — perguntei aflita.
— Sim. Mostrei toda casa. Há algo errado, senhorita Demetria?

É claro que havia! Uma casa com uma dezena de salas, a cozinha gigantesca uma dúzia ou mais de quartos e só isso. Nada mais. 

Oh, Deus, por favor! Permita que eles já existam, por favor! 

— Senhorita? — Joe me lançou um olhar preocupado. — Está se sentindo bem?
— Cadê os banheiros? — perguntei em pânico.
— Banheiros?

Ah, Não! 
Não! Não! Não!

— Sim. Banheiros. Onde se toma banho... Por favor, me diga que você tem pelo menos um nesta casa! Por favor!

Joe ficou confuso. Muito confuso. Então eu soube a resposta. 

Nada de banheiros!
Eu não queria pensar nas opções. Recusei-me a pensar nisso.

— Imagino que tenha notado a banheira em seu quarto. — ele disse, inclinando a cabeça levemente para o lado, ainda desnorteado.
— Sim. Acho que vi. — não tinha visto, realmente, mas se ele disse que havia uma... Não dava mais pra confiar no que apenas eu via.
Banheira era bom. Acalmava. Relaxava. Mas não resolvia todos os meus problemas. Eu ainda olhava pra ele com um horror crescente. Totalmente desesperada, na verdade.
— A banheira, beleza. Mas e quanto ao resto?
— O resto? — repetiu.

Ele estava tentando me irritar? Por que, nervosa como eu estava, nem precisava se dar ao trabalho. 

— É, Joe, o resto? E pare de repetir tudo o que eu digo. Está me deixando nervosa.

Não entre em pânico! Não entre em pânico! 

— Perdoe-me. A que resto, exatamente, a senhorita se refere? — Joe parecia verdadeiramente confuso.
Respirei fundo, tentando me acalmar e pensando que, se ele não sabia o que era um banheiro, então não saberia qual era sua finalidade também.

Isso não pode estar acontecendo! 

Fechei meus olhos bem apertados, tentando acordar mais uma vez. Quando voltei a abri-los, Ian ainda estava ali, me observando curiosamente. Respirei fundo outra vez.
— O resto! — as palavras saíram sem controle. — O resto. As necessidades isiológicas, o xi...
— Ah! Entendo, ele me interrompeu assim que compreendeu sobre o que eu perguntava. — Você deve estar falando da casinha!

Não gostei da forma como ele disse “casinha”. 
Não gostei nada!

— Fica do lado de fora. Vou lhe mostrar.

Observei a casinha por um longo tempo. Era surreal demais!
A casinha era exatamente isso, uma casinha de madeira, há quase um quilômetro da casa imensa. Era tão baixa que alguém precisaria se abaixar para entrar nela, até tinha uma pequena janela. Dentro, havia algo parecido com um caixote de madeira com tampa e dois buracos lado a lado na tampa. Pensei um pouco sobre os buracos. Pra que dois? Seria buraco para líquidos e buraco para sólidos? Ou seria para interação social. Você convida alguém para ir até a casinha e bate um papinho enquanto faz... a oferenda? Por que
dois buracos? Não havia outra forma de descobrir. Tinha que perguntar.

— Por que tem dois buracos?
Joe me fitou com um pouco de constrangimento no rosto.

— É uma ideia modernista. — por um momento, pensei que ele estivesse me gozando. — Substitui muito bem os...penicos. Mas a função é a mesma. Imagine que aquele buraco é um penico e...
— Não. — eu ri. Não pensava em penicos desde... Bem, nunca! — Eu sei pra que servem os buracos. Só não entendi o porquê de dois deles. Supõe-se que uma pessoa por vez use a casinha, certo? — minha voz denotou todo meu horror à menção da palavra casinha.
— Sim, para uso individual, mas pode haver emergências. — ele olhava pra todo lado, menos para mim. — Imagine que a casinha esteja ocupada e, digamos... uma criança precise usá-la também. Acomoda duas pessoas, se for necessário
— Sei. Então não seria melhor ter duas casinhas separadas, com apenas um buraco em cada uma delas em vez de apenas uma casinha com dois buracos? — indaguei meio enrolada.
Suas sobrancelhas arquearam. Ele entendeu meu ponto.
— Na verdade seria sim. — ele disse espantado.
— Imaginei. — e, aparentemente, fui a única.
Depois, contemplei outro dilema. Supondo que eu tivesse usado a casinha. Supondo que tivesse terminado o que fui fazer ali e quisesse voltar para minha vida. Eu precisaria de algumas coisas...
— Joe? — minha voz tremeu um pouco.
— Sim, senhorita Demetria?
— Você usa a casinha, certo?
— Humm, certo. —confirmou, inseguro.
— Então você sabe o que fazer depois. — eu disse, arqueando uma sobrancelha.
Ele corou.
Meu Deus, ele era tão estranho! Aposto que não existia coisa alguma no mundo que fizesse o Logan corar. Ou até mesmo a Marisa! Humm... Eles eram perfeitos um para o outro, eu tinha que admitir.

— Depois de usar a casinha, vou precisar de... — me interrompi sugestivamente, esperando que ele compreendesse e completasse minha sentença. Rezei fervorosamente para que a historia com os sabugos fosse apenas lenda.
— Ah, isso! É para isso que serve aquele pé de alface ali no canto. Todos os dias algum criado coloca um fresco.

Olhei para lan como uma idiota, tentando entender o pé de alface e sua conotação. Então, uma gargalhada histérica explodiu de minha boca, não pude evitar. Pé de alface como papel higiênico! Sem agrotóxicos ainda por cima! Ao menos eram lavadas primeiro? Os ecologistas iriam adorar essa ideia. Totalmente biodegradável!

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Heeeey gente,boa nooite,como ces tão,a semana começou agitada ne ? Com Jemi juntos no palco dps de 4 anos,eu pirei,eu so ia postar na quinta,mais arrumei tempo pra postar hoje,cara,quem diria Joseph Jonas e Demetria Lovato no mesmo palco juntos,dando abraçados,fazendo vines,trocando twitter,aaah pireeeeei.
Boom,boa noite,marquem o EU Li e comentem. 
Beijos,Nath

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Perdida #8

— Eu... estou... perdida. — o que mais eu podia dizer? Escuta só cara, eu acordei hoje de manhã no ano de 2014 e, depois que tropecei numa pedra e meu celular criou uma coisa tipo uma Surpernova, eu vim parar, sabe-se Deus como, no século dezenove. Que doideira! — Eu vim de... outro lugar. Não sei bem como aconteceu, mas quando dei por mim, já estava aqui. E não sei como voltar. — era toda a verdade que dava pra contar a ele.

Joseph continuava a observar meu rosto.

— Então a senhorita está aqui sozinha?

Como olhos tão negros podiam brilhar tão intensamente?

— Estou. — sozinha e desesperada, eu quis acrescentar.
— Se me disser como, posso levá-la de volta para sua casa. — sua voz gentil, seu rosto amigável.
— Mas o problema é esse! Nem eu mesma sei como voltar! — apenas  sabia  que teria que encontrar uma coisa que eu não fazia ideia do que era. — Mas eu vou descobrir. — disse mais para mim mesma que para o rapaz gentil que tinha me ajudado gratuitamente até agora. Entendo. — disse ele, mas tive a impressão que não entendia nada. Não o culpei. Eu mesma tinha dificuldades para compreender.
 — Pensei que tivesse dito que vinha da cidade.
— E eu vim da cidade! Mas tenho certeza absoluta que não é a mesma cidade a que você se refere. Eu vim... De um lugar distante. — não gostei de dizer meias verdades a ele.

Que estranho!

— Então não há lugar algum aonde eu possa levá-la? — constatou.

 Para onde eu iria naquele fim de mundo? 

— Acho que poderia me indicar uma pensão ou um hotel. Não conheço nada aqui. — dei de ombros, imaginando se as pensões já existiam e se aceitariam um chequepré-datado para 65.475 dias.
— Pensão? Jovens solteiras e desacompanhadas não se hospedam em pensões. — ele me censurou. — Além disso, seria um imenso prazer poder hospedá-la em minha casa enquanto descobre como voltar para a sua.

Olhei pra Joseph chocada. Chocada e desconfiada. Ele me conhecia há menos de 
uma hora e me oferecia sua casa como hospedagem! Estranhos não ajudam pessoas que 
acabaram de conhecer. Não no século vinte e um. 

— Eu... Não posso ficar aqui. Você nem me conhece! E eu... — mas pra onde eu iria?

Joseph ficou muito sério. 

—Eu não a conheço, realmente, mas... Fiz algo que a desagradou, senhorita Demetria? Pelo que pude entender, a senhorita não tem conexões aqui, ninguém a quem recorrer. No entanto, parece relutante em aceitar minha ajuda.
— Não. Não é isso. Agradeço muito por sua ajuda! Você foi ótimo! É só que, de onde eu venho, estranhos não ajudam pessoas que não conhecem sem ganhar nada em troca. — soltei e observei sua reação.

Ele me olhou com alguma coisa parecida com indignação. 

— Lugar estranho, esse de onde você vem. No entanto, eu ficarei feliz em ajudá-
la. Sem receber nada em troca. — ele enfatizou. — Apenas quero ampará-la.
— E por quê? — é claro que eu estava desconfiada. Quem não estaria? Eu cresci ouvindo “nunca aceite nada de estranhos!” Mas, naquele caso em particular, eu não tinha outra alternativa.

Ele abriu um sorriso. Uau! 

— Eu tenho uma irmã caçula, senhorita Demetria. Não gostaria de vê-la numa situação parecida com a sua. E ficaria imensamente grato se alguém a ajudasse em uma hora de dificuldade. Sem saber o que fazer — e o que pensar — apenas respondi:
— Então, aceito sua ajuda, pelo menos até eu ter uma ideia de como voltar pra casa.
— Excelente! — um sorriso enorme se espalhou em seu rosto. Meu estômago se agitou. Talvez fosse culpa do vinho.

Joseph me deu uma rápida olhada e desviou os olhos, parecendo constrangido outra 
vez. 

— Hã... Pedirei à senhora Madalena que traga algumas roupas. Você parece ser um pouco maior que minha irmã, mas, ainda assim, será melhor que ficar... vestida dessa forma. — seus olhos caíram no chão.
— Eu não estou sem roupa! As pessoas se vestem assim de onde eu venho. Pare de dizer que estou pelada! — era constrangedor ver que minhas roupas (ou a falta delas) o deixavam tão perturbado.

Joseph arregalou os olhos quando eu disse pelada e depois corou. Nunca tinha visto um homem corar tantas vezes em toda minha vida. Não até hoje de manhã.

— Compreendo. — Joseph disse cauteloso. — Mas veja, aqui não estamos... habituados a esse tipo de traje. Então, seria mais apropriado se a senhorita pudesse... Se pudesse se vestir de forma mais... Tradicional. — ele não me olhou enquanto falava.
— Eu... hã.... — talvez minhas roupas fossem mais estranhas pra ele que as dele eram para mim. Homens usavam ternos em escritórios, em casamentos e festas, não para cavalgar, claro, mas eu já tinha visto homens em trajes formais milhares de vezes. Ele, no entanto, não estava habituado a ver pernas, ao que parecia. Eu vi a mulher de cabelos cinza logo que entrei na casa imensa. Ela vestia um daqueles vestidos volumosos e longos de filmes antigos. Será que foi por isso que ela arfou quando me viu? Pela minha falta de roupas? Pensei que fosse por ter uma estranha sangrando no meio da sala. Humm...
— Então, se fizer a gentileza de vestir as roupas que ela trará, poderá sair do quarto sem impressionar ninguém. Elisa está ansiosa para conhecê-la e eu poderia mostrar-lhe minha casa. Já que se hospedará aqui, precisará conhecer as dependências, caso precise de alguma coisa.

Seu rosto era tão gentil, tão sincero!

— Está bem. — concordei, impotente. Eu não poderia encontrar a tal jornada trancada naquele quarto. E seria melhor não chamar muita atenção, de toda forma. — Valeu, Joseph. Por... se preocupar.
— Valeu? — um pequeno v se formou entre suas sobrancelhas.
— É o mesmo que obrigada, de uma forma mais casual.— e ri sem graça.
Ele sorriu, depois fez uma reverência — exatamente como nos filmes! — e deixou o quarto dizendo apenas:
— Com sua licença, senhorita.
Nossa! Ele se inclinou pra mim! Como se eu fosse uma mocinha indefesa. Como se eu realmente fosse uma donzela do século retrasado e ele fosse...

Foco! Comandei a mim mesma. 

Eu tinha um grande problema. Precisava encontrar muitas respostas. Precisava pensar no que ela havia me dito, palavra por palavra, e tentar encontrar qualquer coisa útil. Mas, fosse o que fosse, eu tinha certeza que não estaria naquele quarto. Eu tinha que encontrar uma pista pra poder voltar pra casa. Por mais gentil — e estranhamente familiar — que o rapaz fosse, eu não tinha intenção de me demorar ali.
Toc-toc!
— Senhorita? — chamou uma voz feminina.
Dessa vez, talvez por causa do calor do vinho, consegui me mover até a porta. A mulher baixinha e rechonchuda, com o mais vivo tom de escarlate no rosto, me olhou de soslaio.

Soslaio? 

Eu já estava entrando na brincadeira! Daqui a pouco estaria chamando as pessoas por seus sobrenomes e corando, o que todo mundo ali parecia fazer.
— Senhorita, o patrão pediu para que eu trouxesse estas roupas.
Fiquei olhando a pilha que ela tinha nas mãos. Quantas roupas ela pretendia vestir com tudo aquilo? Tinha tecido ali para armar uma barraca de acampamento.
— Valeu, dona. Mas eu só vou precisar de uma roupa. No vou ficar aqui muito tempo.
— Sim, senhorita, por isso trouxe este aqui. — ela apontou com a cabeça para um tecido azul.
— Ah! Obrigada. — Peguei o vestido, sorri e comecei a fechar a porta, mas a mulher não se moveu. — Algum problema? — perguntei. Não queria ser rude e bater a porta na cara dela.
— Bem... Senhorita... E quanto ao resto? — ela parecia estranhamente nervosa, seu rosto assumiu um vermelho ainda mais intenso.
— Resto? — perguntei sem compreender.
— Do seu traje! — ela esticou os braços, me oferecendo pilha.
— Hein? Que traje? Eu já peguei o vestido!
Ela remexeu na pilha em suas mãos ruborizando violentamente e, sem me olhar nos olhos, disse:
— Os trajes íntimos. A anágua, o espartilho, as meias, a crinoline e o sapato, Senhorita.
A mulher não esperou por uma resposta minha. Colocou tudo em meus braços entorpecidos. Eu peguei automaticamente. Depois, praticamente correu pelo longo corredor. Fiquei olhando até ela desaparecer. Minhas reações ainda estavam um pouco afetadas pelo choque de estar, de fato, no século dezenove. Fechei a porta.

Joguei a pilha pesada de roupas sobre a cama. Tentei reconhecer algumas peças. 

Vestido: 0K.
Meias: 0K.
Um treco de metal que parecia uma gaiola: Nada 0K.
Espartilhos: já tinha ouvido falar deles.

Uma saia branca de tecido duro e pesado: talvez fosse a tal anágua. Uma peça branca parecida com aqueles shortinhos que se usa embaixo do vestido de quadrilha: humm... Supus que fosse um tipo de lingerie, já que tinha uma abertura entre as pernas e um laço de fita de cetim unindo as duas partes. Olhei para ela e ri. As calçolas da vovó pareceriam escandalosas perto disso! Tirei minha blusa e minha saia e peguei o vestido. Se o problema fosse pernas de fora, ele daria conta do recado. Eu não usaria aqueles Outros instrumentos de tortura. Pra dizer a verdade, fiquei um pouco intrigada com aquela gaiola. Era pra ser usado embaixo do vestido? De verdade? O vestido azul claro, de mangas curtas e decote reto, ficou um pouco largo na cintura e curto no comprimento, mas minhas pernas não apareciam mais, apenas parte dos tornozelos e meus pés. Mantive os tênis. Os sapatos eram pequenos demais para meus pés, mas, principalmente, pareciam ser desconfortáveis.

Meu Deus, como aquele vestido era quente! O tecido pesado me fazia suar em 
todos os lugares. O dia estava exatamente como pela manhã. Agradável e quente. Agradável se você estivesse usando roupas leves, é claro. Com amargura, me lembrei de que gostava daquele tipo de vestido em meus livros. Eu gostava por que nunca tinha usado um! Coloquei minhas roupas na bolsa e amontoei a pilha que sobrara sobre a cômoda. Alguém iria levá-los dali. Vestida — e me sentindo muito ridícula —, saí do quarto procurando refazer o caminho por onde entrei. Passei por um longo corredor cheio de quadros bonitos — paisagens em sua maioria —, tentando encontrar a sala. Notei que haviam muitas portas no corredor. Comecei a ouvir vozes (não de fantasmas, era só o que me faltava!) e segui o som. Acabei encontrando a sala gigantesca. Ian estava ali, além de mais as duas garotas. Parei assim que os vi, sem saber exatamente o que deveria fazer. Para minha sorte, Joseph veio ao meu encontro, sorriu um pouco enquanto examinava o vestido e sacudiu levemente a cabeça.
— Parece estar muito melhor agora, senhorita Demetria. — seu sorriso descontraído me deixou ainda mais envergonhada. Eu estava realmente muito ridícula!
— É. Eu tô melhor. Obrigada, Joseph — respondi, com as bochechas queimando levemente. 

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Oi oi Gente,bom,desculpem a demora,mudei o Lay,perceberam ? estou arrumando ele ainda,enfim,marquem o Eu li,ou os outros ai debaixo e comentem,ficarei muito feliz kkk
Ate domingo ou segunda babys,bom FDS <3
beijos,Nath 

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Perdida #7

 — Senhorita! Eu não sei se entendi exatamente suas palavras, mas... Eu não estou brincando. — sua voz continha toda a indignação que seu rosto demonstrava. — Quando a vi caída no chão com o rosto cheio de sangue e praticamente... — ele pigarreou — Nua, supus que...
— Nua? Gritei. Quem estava nua? — Você tá louco? Eu estou perfeitamente vestida!

Fiquei realmente ofendida. Era por isso, então, que ele me olhava pelo canto dos olhos e depois ficava constrangido? Como se atrevia a pensar que eu estava nua? Esperei que ele pensasse que o tom escarlate em meu rosto fosse de raiva e não do meu súbito constrangimento.Ele recuou um passo e colocou as mãos nos bolsos da calça, parecendo tão envergonhado quanto eu acabara de ficar.

— Desculpe-me. Mas suas pernas estavam descobertas e...
— E por que minhas pernas estavam à mostra você pensou que eu estava nua? Fala sério! Eu tenho saias muito mais curtas que esta, que até é bem comportadinha!

A saia ficava no meio da minha coxa. Como é que eu podia estar pelada?

Mas... se ele fosse mesmo um rapaz do século dezenove, como afirmava ser — era uma suposição muito idiota, claro, mas se ele realmente fosse — talvez ficasse verdadeiramente escandalizado ao ver pernas de fora. O que é que eu estou pensando? Ele não podia ser um rapaz 1830. Simplesmente não era possível. Eu descobriria o que estava acontecendo ali.

— Percebo que ainda está um pouco incoerente. Vou pedir criada para que lhe traga uma xícara de chá.
Eu não disse nada. Apanas fiquei observando ele se curvar e sair do quarto, fechando a porta atrás de si.

Fechei os olhos outra vez.
Vamos! Eu preciso acordar! Tá tudo bem. Eu não estou maluca. É só um sonho. Vamos!
Abri meus olhos.

Tudo estava exatamente igual. Lá estava eu, naquele quarto estranho com cama de dossel e janelas imensas. Olhei em volta, procurando por minhas coisas. Eu tinha que sair dali e arrumar um jeito de acordar. Encontrei minha bolsa jogada numa poltrona — de madeira escura e forrada com um luxuoso tecido dourado — e notei uma coisa prateada refletindo dentro dela. Meu novo celular.
Pulei da cama, peguei o pequeno aparelho e o observei por um tempo. Alguma coisa lá no fundo me dizia que aquela confusão toda começou por causa dele. E então, como se confirmasse minhas suspeitas, ele vibrou e acendeu. Dei um pulo e quase o deixei cair, mas consegui pegá-lo antes que se espatifasse no chão. Ninguém tinha aquele número. Nem mesmo eu sabia qual era o número. Nem tive tempo para descobrir isso.
O celular continuou vibrando em minha mão. Com dedos trêmulos — não sabia bem o por quê, mas tinha a intuição de que aquilo não era nada bom —, apertei a tecla verde e lentamente o levei até a orelha.
— A-Alô? — gaguejei.
— Olá, Demetria. Como está se saindo?

Pisquei convulsivamente. Aquela voz suave e baixa...

— É você? É a mulher que me vendeu este celular? Olha, ele não funciona bem... — comecei e me detive. Lembrei-me de que tinha problemas mais urgentes naquele momento. — Há... Será que você poderia me ajudar? Estou meio... Perdida. — um riso nervoso escapou de meus lábios.

— Perdida? — sua voz não pareceu nada surpresa.
— É. Eu estou num lugar muito estranho onde... onde... — era difícil dizer em voz alta. Tomei fôlego. —
Onde algumas pessoas pensam ser o século dezenove. —- ri nervosa outra vez. — Dá pra acreditar?

Um curto silêncio.

— Claro que dá! — ela disse, satisfeita. — E você não está perdida. Está exatamente onde deveria estar.

Eu pisquei. Tentei falar, mas meu cérebro não obedeceu ao comando.

— Hein? — foi só o que consegui fazer sair.
— Você está onde deveria estar! — ela repetiu convicta.
— Estou? — minha voz muito baixa, mal era um sussurro.
— Sim, está sim, querida. Fico feliz que tenha começado sua jornada.
—Jornada? — repeti debilmente. Minha voz com algum volume agora. — Que jornada? Do que você esta falando? — será que o mundo tinha enlouquecido? Ou será que tinha sido apenas eu?
—Demetria, você precisa completar sua jornada, querida. Descobrir quem realmente é.
— Eu sei quem eu sou! Não preciso de coisa alguma. — o desespero começava a me invadir.
— Precisa sim. Só que ainda não sabe disso. — ela riu Suavemente.
— Olha só... — tentei persuadi-la. — Me ajude a sair daqui e depois a gente conversa sobre isso, hã?
— Mas eu já estou te ajudando, não vê isso? — sua voz um tom meio maternal.
— Ajudando? Como?
— Você sempre foi muito cética, não é? Nunca acreditou em magia. Nem mesmo em conto de fadas ou Papai Noel. Sempre prática! Está na hora de começar a crer que existem mais coisas no universo além das que os seus olhos podem ver e finalmente começar a viver sua vida! Você sempre a deixou para depois, esperando que ela acontecesse, mas nunca fazendo nenhum movimento para isso.

Senti meu corpo se transformar em pedra. Ela tinha falado com a Marisa?

— Não. Não falei com a Marisa. — ela respondeu, parecendo adivinhar o que eu pensava. — Não preciso falar com ninguém para saber. Conheço cada segredo de sua alma. Por isso, precisei intervir.
Eu não tinha reação. Senti meu cérebro virar mingau. Nem um único pensamento coerente.
— Intervir? C-como? — não sei como ela conseguiu me ouvir, por que me pareceu que as palavras não tinham som algum.
— Intervir, Demetria. Você não voltará até que encontre o que procura. Terá que completar sua jornada. Mas terá que ficar aí até que a complete. Você não está sozinha, acredite! — sua voz ficou triste.
— Não pode estar falando sério? —comecei a tremer.
— Estou falando muito sério. Você voltará de uma forma ou de outra, mas primeiro terá que encontrar o que procura.
— Mas encontrar o que? Eu não tenho ideia do que você está falando!
— Isso — ela disse com delicadeza. — você terá que descobrir sozinha. Vamos, Demi! Você sempre foi a mais competente! Saberá o que fazer.
— Mas...
— Eu sei querida. — disse, maternalmente, outra vez. — Também queria que existisse uma outra forma! Mas tudo ficará bem, você verá! E antes que eu me esqueça, não vai adiantar tentar usar o telefone. Não vai funcionar. Ele servirá apenas para que eu possa orientá-la. Não o perca, por favor.
O celular! O clarão, as coisas desaparecidas, as pessoas estranhas, este lugar, tudo isso foi...
— Sim. Tudo causado pelo celular. — ela completou.

Eu ainda não conseguia me mover. Era demais pra mim!

— Quem é você? O que quer de mim? Por que está fazendo isso?
— Eu sou sua amiga, querida. E já disse que só quero te ajudar. É minha obrigação te ajudar! Agora, comece logo a se misturar. Pare de reclamar e comece sua busca. Quanto mais rápido começar, mais rápido poderei trazê-la de volta. E, por favor, evite confusão e não saia por aí dizendo que veio do futuro. Ninguém vai acreditar em você! — um curto silêncio.
— Eu farei contato em breve.
— Espere! — gritei, mas ela já tinha desligado.

Toc-toc!

Observei a porta com o telefone ainda pressionado em minha orelha.
Não podia ser real! Aquilo não podia estar acontecendo! Quem era aquela criatura? O que eu fiz pra merecer isso? Por que eu? Que jornada era essa? E o que eu tinha que encontrar pra ela? O que eu iria fazer agora? Eu estava mesmo em 1830? Mas era loucura! Como era possível que eu tivesse viajado no tempo? Não era possível!
As perguntas giravam em minha cabeça, me deixando tonta.

Toc toc!

— Senhorita? — perguntou uma voz masculina.
Guardei o telefone na bolsa e me virei para a porta. Eu tinha a intenção de ir até ela e abri-la, mas minhas pernas não obedeceram.
— E-Entre — esforcei-me para que minha voz saísse com um pouco mais de volume.
Joseph entrou. Tinha nas mãos uma bandeja com alguma coisa fumegante.
— Perdoe-me, senhorita Demetria. — disse, assim que pisou no quarto. — Eu mesmo trouxe seu chá. Pensei que já estivesse assustada o bastante para que outro desconhecido o trouxesse. Sente-se um pouco melhor?
— Chá? — indaguei ainda zonza. — Não tem nada mais forte? Algo com bastante álcool, de preferência? — ou talvez éter ou cianureto. Meu cérebro já parecia estar derretido mesmo!

Suas sobrancelhas escuras se arquearam.

— Forte? Um vinho talvez?
Vinho?
Suspirei. Era melhor que chá!
— Vinho tá bom. — Tanto quanto formicida.
— Esse vinho é muito bom. Vai se sentir melhor rapidamente.
Duvido muito!
Ele deixou a bandeja numa mesinha. Pegou uma garrafa toda trabalhada de cristal e serviu o vinho numa taça, aproximou-se lentamente de onde eu estava — ainda grudada no assoalho de madeira como uma árvore — e parou a um passo. Esticou o braço, me oferecendo o vinho.
Fiquei feliz ao notar que meu corpo começava a responder aos comandos de meu cérebro. Peguei a taça, um pouco hesitante, as mãos ainda tremendo, e virei tudo em um só gole.
Ele me observava atentamente. Alguma coisa em seus olhos — negros como uma noite sem lua me deixava inquieta.
— Melhor? — perguntou suavemente.
— Sim — respondi quase num sussurro.
Não era inteiramente mentira. Nada faria com que eu me sentisse bem estando ali, mas o calor do vinho correndo nas veias afugentou o frio e um pouco do tremor.
— Ótimo. — ele soriu um pouco. — E agora...
Ah! claro. Ele queria saber o que havia acontecido comigo e, com certeza, que eu desse o fora de sua casa o mais rápido possível.
— Eu... estou... perdida. — o que mais eu podia dizer? Escuta só cara, eu acordei hoje de manhã no ano de 2014 e, depois que tropecei numa pedra e meu celular criou uma coisa tipo uma Surpernova, eu vim parar, sabe-se Deus como, no século dezenove. Que doideira! — Eu vim de... outro lugar. Não sei bem como aconteceu, mas quando dei por mim, já estava aqui. E não sei como voltar. — era toda a verdade que dava pra contar a ele.

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Hey gente,boa noite,desculpas a demora,enfim postei,mais os comentarios,ta tão baixo que desanima,mais enfim,bom FDS,divirtam-se,leiam e deixem suas opiniões ta?! Um grande beijo no coração de todas. Nath :*
#COISAS BOAS E LOUCAS ESTÃO POR APARECEEER.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Perdida #6

— Não se preocupe com isso! Elisa lhe arrumará algo para vestir. — ele me empurrou gentilmente para mais perto do cavalo.

Eu recuei, me soltando de seu abraço.

— Sabe de uma coisa? Eu tô legal! — eu não sabia que tipo de maluco ele era, mas que não estava em seu juízo perfeito, isso era um fato. — Vou tentar descobrir como cheguei aqui e depois vou voltar para casa. Mas valeu pela ajuda, moço.

Girei para o outro lado, querendo ficar o mais longe possível daquele lunático, quando parei, petrificada. Uma carruagem surgiu na estrada. Uma carruagem de verdade, de madeira, com dois cavalos na frente e um carinha sentado quase no teto vestindo roupas engraçadas.

— Está tendo um desfile ou coisa parecida por aqui? — questionei, observando a carruagem se aproximar mais.
— Desfile?

Virei-me para observá-lo. Seu rosto ansioso acompanhava o trajeto da carruagem.

— É, desfile. Onde aquele troço antigo está indo?
— A carruagem? Não é antiga! É da família Albuquerque, eles acabaram de adquiri-la. A antiga estava causando muitos transtornos a eles.

Apenas fiquei olhando para ele, esperando encontrar sentido no que me dizia.

— Nova? — caçoei. — Aquele troço? Deve ter uns duzentos anos!

Sua testa se enrugou, as sobrancelhas arqueadas.

— Garanto-lhe que é nova. Foi construída há apenas alguns meses.
— Ah! Entendi. Ele é tipo um colecionador. — a carruagem se aproximava.
— Colecionador? Tipo? Senhorita creio que esteja um pouco desconexa neste momento. Ficarei mais aliviado após o Dr. Almeida lhe examinar. Então...

A carruagem parou na estrada e, através da pequena janela lateral, uma cabeça usando cartola — cartola! 
— apareceu.
— Está tudo bem, Senhor Clarke ? Algum problema? — perguntou o homem de rosto gordinho e bigode enorme, me examinando atentamente. Os olhos se arregalaram e, quando olhou para minhas pernas, ruborizou.

O rapaz ao meu lado se colocou na minha frente, me impedindo de ver a imagem pitoresca.

— Esta jovem foi assaltada, Senhor Albuquerque. Vou levá-la para minha casa.
A pobre tem um ferimento na cabeça. — ele disse, um pouco ríspido
— Ah! Esses tempos modernos estão acabando com o sossego das pessoas de bem. — o bigodudo sacudiu a cabeça, exasperado. Por que ele também vestia roupas estranhas? — Precisa de ajuda?
— Se puder avisar o Dr. Almeida que precisarei de seus serviços imediatamente, lhe serei muito grato.
— Então irei imediatamente! Avise-me se precisar de alguma ajuda.

O rapaz assentiu. E, com um aceno de cabeça do bigodudo para o carinha sentado do lado de fora, a carruagem partiu apressadamente. Fiquei olhando até que sumisse de vista.

— Podemos ir, senhorita? — o rapaz me perguntou com a voz aflita.
— O que está acontecendo aqui? — exigi, desconfiada que ele mentisse sobre o desfile.
— Não tenho certeza se a compreendi. — e seu rosto pareceu sincero.
— Por que você fala desse jeito estranho, tá vestido com estas roupas e tem carruagens passando pela estrada?
— Senhorita... — disse preocupado. — Por favor, vamos até minha casa! Acho que pode ter tido uma lesão. A pancada que levou deve ter sido muito forte!
— Não vou pra sua casa, ficou doido? Eu sei lá o que você pretende fazer comigo? Você pode muito bem ser um psicopata que quer me fazer em pedacinhos e me guardar dentro do freezer pra comer aos poucos. Não sabe em que ano estamos? — estava desconfiada que ele fosse maluco, mas ele não parecia ser um psicopata.

Tinha alguma coisa diferente em seu rosto, o brilho em seus olhos negros me parecia familiar, seus traços bonitos e fortes o deixavam parecido com um deus da Grécia Antiga. E seu tamanho — tão grande e forte, mas não bombado me transmitia segurança. Mas, afinal, quantos psicopatas eu conhecia para poder comparar?

Nenhum. Pelo menos que eu soubesse.

— Estamos no ano de mil oitocentos e trinta e garanto-lhe que sou um homem de bem. Não tenho outra intenção que não seja ajudá-la! — ele respondeu, ofendido, à minha pergunta retórica.

Ele disse mil oitocentos e trinta?

Explodi num ataque de riso histérico, não pude controlar. O rapaz pareceu perturbado.
— Senhorita, vamos...
— Mil... Mil... Oitocentos e trinta! — eu não conseguia me conter. Respirei algumas vezes antes de poder falar. — Boa piada! Muito engraçada mesmo!
— Não lhe contei piada alguma!
— Então acha que eu tenho cara de idiota! —comecei a rir outra vez.
— É claro que não. Jamais ousaria ofendê-la, mas vejo que está muito transtornada — falou, o rosto sério. — Por isso, vou levá-la para minha casa. Então, suba logo, por favor! — e indicou a cela, obstinado.
— Mil oitocentos e trinta! — zombei.
— Não consigo entender o motivo que a diverte tanto— resmungou baixinho.
— Tá bom, maluco. Vamos até sua casa. Lá no século dezenove!

Aproximei-me do cavalo e parei. Nunca tinha subido em um antes. Parecia alto demais. O rapaz percebeu meu temor e gentilmente tocou minha cintura, colocando minha mão em seu ombro para apoio. De novo aquela sensação estranha de que já o conhecia me perturbou. Eu não tinha ideia de onde estava, mas ele, aparentemente sabia. Mesmo que fosse um maluco, ainda poderia me emprestar o telefone para chamar um táxi ou ligar para Marisa. Subi com muita dificuldade no cavalo, quase caindo do outro lado por culpa de um impulso mal calculado. O rapaz rapidamente se esticou e me pegou pelo braço, impedindo que eu me estatelasse.

— Segure-se. — ele disse enquanto subia, fazendo a cela se movimentar um pouco e eu oscilar.
Uma de suas mãos circulou minha cintura assim que ele se acomodou na cela. Fiquei incomodada com a proximidade.
— Você precisa mesmo me apertar tanto? — perguntei asperamente.
— Posso soltá-la, se estiver disposta a cair e bater sua cabeça novamente.

Olhei para o chão. Era alto demais. Segurei firme com as duas mãos o braço que me rodeava, apertando-o um pouco mais.

Ele riu baixinho.

— Não tente nem uma gracinha. — alertei. — Eu sei alguns golpes de Jiu-Jitsu. Quebro seu nariz em dois tempos!
— Estou, de fato, muito preocupado com sua cabeça, senhorita. — sua voz séria, sem vestígio de humor. — Não está dizendo palavras coerentes. Você precisa ver o Dr. Almeida.
— É. — concordei, pensando na carruagem e no sumiço repentino da cidade. — Acho que você tem razão. Preciso muito. Muito mesmo!

Isso não está acontecendo! Isso não está acontecendo! Repeti a frase para mim mesma na última meia hora, tentando desesperadamente me convencer de que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo. Tinha que ser um pesadelo! Que outra opção eu tinha? Demência? Era uma opção a ser considerada. Mas eu a deixei de lado rapidamente, já que todas as outras áreas de meu cérebro pareciam funcionar normalmente. Não me sentia embriagada. Não mesmo! O nó em meu estômago era prova de que eu já estive embriagada e agora estava na fase dois: a ressaca. Talvez a pancada na cabeça fosse a explicação. Talvez tivesse batido a cabeça com muita força e algum fio importante tivesse se soltado lá dentro e agora eu estava criando essas alucinações.
Mas parecia tudo tão real!
Como a cama imensa na qual me obrigaram a deitar ou o médico magricela que saiu do quarto enorme (de paredes verdes e altas) por uma porta dupla imensa há alguns minutos. Ou a mulher baixinha — os cabelos presos num coque bem feito, usando um vestido longo e bufante — que abriu a porta e ficou horrorizada quando me viu ao lado do rapaz. Ou os móveis antigos da sala gigantesca pela qual entrei, ou aquela casa imensa com aparência de museu, só que tudo era novo, sem desgaste do tempo. Ou as duas garotas de cabelos arrumados e roupas de princesa que me observaram assustadas. Claro que tinha uma explicação razoável para tudo isso escondida em algum lugar. Tinha que ter.
Virei-me de um lado para o outro no colchão gigante e espantosamente duro tentando encontrar uma explicação lógica e sensata, mas não conseguia pensar em nenhuma. Parecia que meu cérebro não era mais capaz de fazer ligações coerentes.

Humm. . .Talvez devesse reconsiderar a demência.

Uma batida sutil na porta me tirou do turbilhão de pensamentos.

— Hum... Entre? — o que mais eu poderia dizer?
O rapaz que me trouxe até ali entrou no quarto, o rosto sério.

Joseph
Joseph Clarke. Agora sabia o nome da minha primeira alucinação.

— Como está se sentindo, senhorita Demetria? — ele parecia desconfortável, ali em pé ao lado da cama.
— Estou bem. O médico só encontrou um galo na minha cabeça, o corte foi superficial. Nada de mais. — nada além de terem me dito que estávamos há dois séculos daquele em que eu vivia. Nada de mais. Tudo normal!
— Fico feliz em ouvir isso. — e pareceu sincero. Fiquei surpresa que um estranho se preocupasse comigo daquela forma. Fiquei olhando pra ele como uma idiota. Ele me lembrava os mocinhos dos meus romances.
Seria isso? Eu bati forte com a cabeça e estava fantasiando? Mas, se fosse isso, por que eu também não me parecia com uma das heroínas desses livros?

Joseph ficou um pouco constrangido. Também pudera eu o encarava como se ele fosse um fantasma ou uma assombração!

Depois de limpar a garganta e parecer não saber onde colocar os braços — acabou cruzando atrás das costas —, ele me perguntou com a voz instável:
— Gostaria de comer algo? Posso pedir para a senhora Madalena para trazer-lhe alguma coisa.
— Não, não. — apenas a menção da palavra comida fez meu estômago se revirar. — Eu tô legal.
— Legal? — me olhou intrigado. — A senhorita tem uma maneira muito peculiar de se expressar.

Eu não tinha, não!

— Acho que posso dizer o mesmo. Você fala tipo meu avô! — disse, um pouco ofendida.
— Tipo? Hum... É algo bom?

Ah, meu Deus!

— É como dizer que você fala como meu avô. — expliquei. Se eu realmente estava criando as alucinações, poderia ao menos criá-las de forma que compreendessem o que eu dizia.
Joseph ficou surpreso e depois constrangido.

Fala sério!

— Bem — ele pigarreou. — Fiquei muito perturbado com a forma com que a encontrei. — então éramos dois! — A senhorita foi vítima de algum saqueador?
— Saqueador? — perguntei debilmente.

Eu tinha que acordar daquele sonho maluco. E rápido.
Ou acabaria tão doida quanto todas as pessoas daquele hospício.

Joseph apenas me encarou.

— Você está falando sério? Isso tudo é um tipo de piada de mau gosto que alguém armou pra cima de mim? Por que, olha, não tem mais graça! — será que era algum tipo de pegadinha, daquelas da TV e eu estava pagando o maior mico?
Suas bochechas ficaram vermelhas outra vez.

Ah! Tem dó!

— Senhorita! Eu não sei se entendi exatamente suas palavras, mas... Eu não estou brincando. — sua voz continha toda a indignação que seu rosto demonstrava. — Quando a vi caída no chão com o rosto cheio de sangue e praticamente... — ele pigarreou — Nua, supus que...
— Nua? Gritei. Quem estava nua? — Você tá louco? Eu estou perfeitamente vestida

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Oi meninas,perdão a demora,mais voltei :),como hoje é terça,na quinta eu volto com mais um capitulo,ta meio louco,mais vcs entenderam ao desenrolar da hisotria. Boa semana a todas e COMENTEM POR FAVOR .
Beijos,Nath